quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Prisioneira de um banco de jardim

#estetextoépuraficção


Quando dei por mim, estava sentada num banco de jardim, num sítio completamente estranho e sombrio. Sentia a cabeça vazia de qualquer memória. Não sabia quem era, onde estava, nem como lá tinha chegado.

Confusa, dei por mim a olhar para os meus pés e reparei que estavam desnudados. Como era isso possível, eu tinha saído de casa descalça? De imediato, entrei em pânico e tentei levantar-me para sair daquele lugar assustador e desconhecido, mas não o consegui fazer... estranho, eu não estava presa ao banco com cordas, correntes ou algemas, no entanto não me consegui mover. Nesse momento, senti a minha ansiedade a emergir das profundezas e a cada segundo que passava a situação agravava-se.

O que eu mais queria era sair dali, mas não estava a conseguir. Mais parecia um pesadelo, mas como o poderia ser? A minha aflição era tão grande, que se fosse um pesadelo, eu teria acordado.

Em pleno ataque de pânico, sentia-me cada vez mais fraca, com os sentidos a desfalecerem, já via a morte diante de mim. Não estava a ser objectiva ou racional, não o conseguia... só pensava que aqueles eram os meus últimos minutos de vida e estava ali sozinha, num sítio estranho... de repente, senti um aperto no peito, a visão ficou turva e caí para o lado inanimada.

Ao voltar a mim, reparei que continuava sentada naquele banco de jardim, mas agora sem ansiedade ou pânico, sentia uma espécie de conforto e segurança. Contudo, continuava sem me lembrar de quem era, o que estava ali a fazer ou como tinha lá ido parar. Mas, aquele sentimento de segurança deu-me outro ânimo e levou-me a ver tudo com muito mais clareza.

Foi então, que comecei a observar o que estava em meu redor. O que no início me pareceu estranho e sombrio, não passava de um jardim maravilhoso, posso afirmar, que era o jardim do éden repleto de belas flores e árvores majestosas. No entanto, para além de mim, não havia vivalma.

Repentinamente, olho para os meus pés e reparo nas belas sandálias vermelhas, que tinha calçadas. Fiquei cheia de vontade para explorar aquele recanto da natureza e levantei-me.

Como podia eu ter-me levantado, se ainda à pouco o não conseguia fazer? Envolvida nesse pensamento, acordei... olhei para o lado e reconheci o meu quarto, respirei de alívio.

Tudo não passara de um sonho, fui à cozinha beber um pouco de água. Mas, assim que abri a porta do quarto vejo que estava de novo naquele maldito jardim. Em pânico gritei e desatei a correr, a correr, a correr sem olhar para trás... com os olhos encharcados em lágrimas, cansada, desesperada, não conseguia sair daquele lugar. As forças abandonaram-me e acabei por cair, como se caísse de um precipício, numa queda sem fim, acabei por fechar os olhos e desisti.

Entretanto, abri de novo os olhos e pude verificar que tinha voltado ao mesmo banco de jardim, olhei para os pés e estava de novo descalça... o pânico voltou, o coração acelerou, o medo tomou conta de mim, a confusão instalou-se.

Gritei, gritei, gritei até me faltar a voz, mas ninguém veio, ninguém me salvou... só me restava ficar ali, prisioneira daquele banco de jardim.

10 comentários:

  1. Isto foi mesmo um sonho mau ou apenas um exercício de escrita? Agora até eu fiquei aflita.
    Beijinho

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    1. Isto é apenas ficção, uns rabiscos que ando a escrever... mas, posso dizer que contém duas coisas que já fizeram parte dos meus pesadelos...

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    2. Fico feliz por este texto ter transmitido algo, como aflição... eu escrevo sempre com a esperança que as minhas palavras provoquem sensações ;)

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  2. Por vezes ficamos presos em momentos e lugares. Tens muito talento.

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    1. Muito obrigada. Já me aconteceu ficar prisioneira de um momento, que não foi nada agradável. É daí que vem a minha inspiração.

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  3. Este teu texto ficcionado encaixa-se no meu pesadelo acordado que são as crises de ansiedade, em que me sinto completamente incapaz de qualquer tipo de controle emocional... e no meu pesadelo adormecido de sonhar estar em qualquer lado e ao querer ir embora não tenho sapatos... a nossa mente é capaz de fazer de nós, o mais feliz, e o mais sofredor...

    Beijos

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    1. E eu sei disso na primeira pessoa, por isso é fácil passar para a ficção, emoções verdadeiras.

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  4. Já tinha comentado este texto...
    Mais uma vez digo que tens uma inspiração preciosa para escrever, e não a deves descurar!
    Esse texto faz-me lembrar os pesadelos constantes em que vivo presa, transmite muita emoção, faz-nos pensar... Espero ler mais textos teus! De reflexão e algo filósofos?...

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    1. Este texto aparece de novo aqui, porque mudei isto tudo, outra vez, e não queria que ele desaparecesse.. quando escrevo qualquer coisa é para provocar algo em quem lê. Obrigada.

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