sábado, 20 de julho de 2013

A ansiedade e eu #1


Tudo começou há um tempo atrás, mas não foi na ilha do sol... a minha ligação profunda e intensa com a ansiedade, teve início no dia 31 de Julho de 2004. Ainda me lembro, aliás nunca irei esquecer, de como ela fez a sua entrada, espalhafatosa e surpreendente. Aquele Sábado ficou marcado, pelo início da minha longa amizade com a "gaja" que, literalmente, destruiu a minha vida. A partir desse dia, eu deixei de viver uma vida normal.


Nunca me tinha sentido mal, naquele dia estava péssima, mal conseguia estar de pé, a visão estava turva, só estava bem deitada. Quando cheguei à CATUS, estava quase a cair para o lado, fui imediatamente atendida e a primeira coisa que fizeram foi medir a tensão arterial, estava altíssima, deram-me uma ampola que minutos depois me deixou mole e quase a dormir, mas a tensão continuava alta... diagnóstico do médico: você sentiu-se mal devido ao calor, não se preocupe, vá para casa descanse que amanhã já está normal.

Fui para casa, atordoada devido ao medicamento, mas sempre a pensar no momento em que tudo se despoletou, eu literalmente tinha visto a morte a olhar para mim... não conseguia esquecer, tentava racionalizar e analisar o que se tinha passado, mas eu não sou médica, não conseguia encontrar respostas. Comecei a passar-me com aquilo, no que o médico me tinha dito não conseguia acreditar, nessa mesma noite chegaram os ataques de pânico...


Eu não sabia o que se passava comigo, só pensava que ia morrer, que a minha vida tinha acabado aos 31 anos, este pensamento ainda fez piorar a situação. Não há palavras que descrevam o desespero que senti, no meu primeiro contacto com esta doença.

No dia seguinte, não estava tão mal, mas continuava esquisita, isso fez com que continuassem os pensamentos obsessivos de morte. Não sou pessoa de me queixar, aguentei isto tudo calada, nunca me queixei, mas só eu sei o turbilhão que ia cá dentro. Eu vi e revi o meu primeiro incidente sem parar, isto aconteceu nos meses seguintes, não conseguia parar de pensar nisso. 

Na Segunda-feira, era dia de trabalho, nem sei como lá cheguei, eu estava péssima... pegar no carro e conduzir até lá foi difícil e perigoso, não sei como consegui chegar e aguentar o dia todo. Dentro da fraqueza, que a doença nos traz, ainda consegui arranjar forças, para tentar estar normal. 

Foi um esforço em vão, no dia seguinte não fui... decidi consultar um médico privado, porque nesta altura estava convencida que tinha um problema cardíaco, devido ao aceleramento do coração. Após uma primeira observação ele disse que eu estava extremamente stressada e com um esgotamento físico. Fiz todos os exames que se podiam fazer, ao coração, e estava tudo bem.

Acham que eu acreditei nisso?

Está claro que não, alimentei o pensamento do problema cardíaco que ninguém iria descobrir e eu acabaria por morrer.

O médico falou que tudo era psicológico, não era fisiológico... eu não acreditei.

Por hoje, só digo mais uma coisa, o poder da mente é mesmo real, seja para o bem, seja para o mal.

13 comentários:

  1. Foi nesta altura que encarei a minha mortalidade de frente e fiquei aterrada com essa perspectiva.

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  2. Lamento muito, parece uma tortura... :( felizmente tendo a ser uma pessoa tranquila.

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    1. Ainda bem, não queiras saber como é... não desejo isto ao meu pior inimigo... felizmente estou muito melhor e já consigo falar sobre isto ;)

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    2. E o conseguir aceitar e lidar com isso é um passo muito importante! :)

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  3. Pode não ser uma doença que apareça em análises ou exames específicos, mas agora é fácil de identificar...

    Devias de ter ido a uma consulta de psicologia/psiquiatria.
    Já tomo medicamentos para a ansiedade (Sofro de ansiedade generalizada -http://saude.sapo.pt/bem-estar-e-emocao/artigos-gerais/ansiedade-generalizada.html-) entre outros sintomas psicológicos, como a depressão e esgotamento...
    Estou farta de andar em médicos, de andar a tomar medicamentos, e cada vez que vou ao médico estou pior... Ou porque os medicamentos não fizeram nada, ou porque causaram efeitos secundários ou porque entretanto descobrem algo novo...

    É extremamente difícil de viver com isto, e muito mais porque parece que ninguém compreende, ninguém leva a sério e ainda gozam com a situação...

    "Chora da ferida quem não tem nenhuma cicatriz!"

    Ando a tomar 3 comprimidos diferentes SÓ para a ansiedade, e uma carrada deles para o resto (dores, fibromialgia, depressão, dormir), mas não vale a pena...
    Porque esta ansiedade se não for arrancada de raiz (ou seja, superar o trauma) não vale a pena... É como "tapar" o que está lá dentro, mas não deixa de estar, nem cura... Apenas esconde... Pois a dormir não há nada nem ninguém que controle a realidade, quando o meu subconsciente domina o meu ser (nos pesadelos constantes) ai dá para ver a realidade do que se encontra cá escondido...

    Muita força e tens aqui alguém que te compreende e deseja que encontres alguém que te ajude a superar este mal horroroso...

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    1. Dentro do mau, é reconfortante encontrar alguém com os mesmos problemas, já não me sinto tão diferente.

      Em 2004, foi muito complicado e enquanto não descobriram o que se passava comigo, foi difícil, depois veio a medicação e voltei ao normal... quando acabei com a medicação voltou tudo outra vez, mas a uma escala mais pequena. Aguentei desde 2007 até ao ano passado sem medicação, mas não consegui e voltei às drogas. Sinto-me bem outra vez, as obsessões quase que desapareceram.

      Tenho tentado enfrentar o que me assusta, seguindo os conselhos da minha psicóloga, e tenho conseguido voltar ao normal.

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    2. Ainda bem que já estás a ter apoio... A mim a medicação pouca diferença faz, e o psicólogo diz que é por eu não querer (?) que faça efeito?
      Não quero? Eu sou assim tão poderosa que controlo os químicos?
      Até medicamentos naturais eu tomo (como a Valeriana e o HTP5)... Mas que eu estou tão "presa" dentro de mim própria que enquanto não controlar estes medos, estes traumas, enquanto não conseguir ter uma noite descansada, em que não acorde esgotada, posso tomar de tudo, que não vale a pena...
      Até uma cura do sono eu fiz! A única altura em que "dormi" sem sonhar foi quando levei anestesia geral para ser operada ao peito, quando tinha 15 anos.

      Já tive internada com um esgotamento, fiz uma suposta "cura do sono" que não me curou absolutamente nada, deixou-me ainda pior, com uma "moca" que demorou meses a sair, e ainda me prendiam mais nos pesadelos, pois queria acordar e não conseguia!
      Foi horrível!

      Não estás sozinha, e tenho pena das pessoas que sabem que estão mal, mas têm vergonha de assumir...

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    3. Assumir o que têm é um pequeno passo em direcção à "cura"... no meu caso não há cura, a ansiedade vai andar comigo enquanto eu cá estiver... podemos é aprender a viver com ela, através de técnicas de relaxamento, enfrentando o que nos assusta, comigo é o medo da morte, do avc, do ataque cardíaco... enfim, assumir é o primeiro passo.

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    4. Isso é bem verdade... Eu estou a tentar mudar a minha maneira "trancada" e "por detrás de um muro" de ser, e aceitar que tenho de fazer coisas "maricas", tipo pilates e outras técnicas de relaxamento, e aceitar que apesar de eu ser bastante "violenta" para essas coisas e preferir artes marciais, tenho de aceitar primeiro que os meus joelhos já não permitem esse tipo de aventuras, e depois que eu queira quer não, preciso para sobreviver com alguma qualidade de vida essas coisas de relaxamento... Até já estou a preparar-me para ir para um centro daqueles tipo 30 minutos por dia, de técnicas de alongamentos (que preciso para as minhas lesões e atrofias musculares) e que incluem técnicas de relaxamento... (eu na fisioterapia, quando me faziam massagens de relaxamento muscular, acreditas que nem assim eu relaxava?) o que metia o meu fisioterapeuta "louco", "Como é possível?"

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    5. Uma coisa muito "maricas", mas super relaxante, é o ioga... já fui a umas aulas e aquilo é mesmo relaxante, no final eu até ia adormecendo, lol... tenho pena que aulas sejam às 18:30, que é a hora de saída do trabalho, chego muito atrasada... gostei muito, fiquei muito zen.

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    6. A sério? Estou um bocado "pé atrás" com essa "mariquice" (e também porque não tenho quase elasticidade nenhuma, e vejo-os a fazer com cada cena)... Mas se recomendas, porque não... experimentar....

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  4. É uma experiencia que nao desejamos a ninguem.

    Fui a um psicologo e ele disse que eu sofria de ansiedade. e depois de ler este texto, tive alguns sintomas que foram referidos ai. Atualmente estou a tomar medicação, mas sinceramente nao vejo grandes melhorias.

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    1. A medicação demora algum tempo a fazer efeito, no meu caso demorou umas 4 semanas... se já estiveres a tomar medicamentos à muito tempo e não fizer efeito, é melhor falares com o teu médico, se calhar não estás a tomar o mais adequado.

      Eu, por exemplo, tomei ansiolíticos que não fizeram efeito... neste momento tomo Venlafaxina e sinto-me muito bem. Estou contigo, sei o que estás a passar, que é difícil... tens de ter força e aprender a viver com a ansiedade, a controlá-la, se a deixares controlar-te, como eu deixei, é muito complicado dar a volta. Força :)

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